Eu não sobreviveria entre arranha-céus. Sempre quis ter a coragem dos que enfrentam a capital de peito aberto, dos que pulam carnaval nas grandes avenidas, dos que dizem tchau e vão mergulhar de ponta, da ponte, nas profundezas do mundo.
Eu nunca passei daquela que todas as tardes no café deixava o biscoito cair com a manteira virada pra baixo, que fechava a janela todas as noites espreitando a lua e dando suspiros sinestésicos de alívio e impotência.
Não quero chegar ao fim da vida arrependida de todas as coisas que não fiz e espero que o Universo seja bondoso o suficiente pra me conceder saúde e alguns anos pra realizar apenas um bocado dos muitos sonhos que tive acordada, na zona de conforto.
Ah, a juventude... sempre mal aproveitada. Burrice? Medo? Insegurança? Meu rosto formiga e o sono vem vindo. Olho meu corpo magro no espelho, coloco aquele pijama velho e desbotado e digo a mim mesma que o futuro será generoso. Não com minha aparência, mas ao menos com minha força de vontade pra viver mais depressa. Chega de andar devagarzinho.
Achado de 21.01.2015.