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Channel: Coisas Fúteis
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Sou certinha e sou feliz

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Eu gostaria de entender a dificuldade que as pessoas tem de se assumirem certinhas e precisarem ficar o tempo todo afirmando o quanto são loucas. Queria entender que ode à loucura é essa que surgiu de uns tempos pra cá onde todos querem compartilhar memes que falem sobre o quanto elas são loucas e não estão nem aí pra vida e pra nada. Entendo que isso veio na época da contracultura e de todo o movimento hippie, onde a resistência estava na loucura.
Mas as pessoas rechaçam o "certinho" como se SÓ fosse possível ser feliz na loucura, no desvario e sendo destrambelhado da cabeça. Há uma negação de todo tipo de ordem e a racionalidade, como se todos que os seguissem, fossem bitolados. Eu acho que é preciso sempre um pouco de ordem sim, pra não rompermos com a realidade.
Hoje em dia é como se só se pudesse, por exemplo, ser realmente uma mulher livre e emancipada do patriarcado se não se apegar a nenhum homem, se não souber cozinhar, se não souber costurar ou nada que se assemelhe ao que sua mãe ou sua avó fazia. 
Eu me assumo certinha! Eu amo ser uma pessoa certinha e careta (no bom sentido da palavra). Eu amo ser nerd, eu me mato de estudar sim porque sou perfeccionista, talvez até um pouco orgulhosa e auto-cobrante. Eu amo aprender ofícios "de dona de casa" ou "de velha" sim! - como cozinhar pra quem amo (isso inclui sim meu namorado sim!), como costurar, aprender a bordar, deixar tudo em ordem, tomar um chazinho com biscoitos, cuidar do meu irmão e ficar em casa no meu sossego. Eu tenho religião sim e vou ao centro espírita de uma a duas vezes por semana - um compromisso de mim pra mim mesma. Eu namoro o mesmo cara há mais de 6 anos e passo todos os meus sábados com ele porque amo esse momento nosso e só quem ama entende o que esse tempo significa.
E ser assim não faz de mim uma alienada do meu poder, da minha força e da minha contestação contra o mundo e as coisas que estão erradas. E isso não faz de mim uma pessoa menos feliz, porque o meu "ser certinha" não me aprisiona. Ser certinho não é sinônimo de ser um pássaro preso na gaiola. Não existe o binômio "ser feliz ou ser certinho". Os dois podem andar juntos e eu sou a prova disso.
Ser certinho pra mim não é ser legalista, moralista ou se adequar a todos os padrões da sociedade (coisas que nego com todas as minhas forças). Quem pensa que é isso, precisa rever seus conceitos. Eu sou certinha e tenho a mente aberta, sou crítica e muitas vezes vou contra a massa, nado contra a maré também. Mas não acho que eu precise me afirmar todo tempo como uma pessoa "louca", "fora dos padrões", que não está encada com os estudos (porque eu sempre estou), que não está pensando em casar (porque eu estou sim) e outras coisas do tipo. A juventude de hoje se tornou extremista demais e isso me entristece.
Eu sou certinha porque sou assim desde que me entendo por gente. E, não trazendo nenhum tipo de sofrimento a mim e aos outros, não pretendo mudar tão cedo. Eu sou assim porque gosto de ser assim, não porque busco reconhecimento pelo meu empenho, esforço ou dedicação. Não por querer agradar ou buscar aprovação externa. Eu sou assim porque amo ser assim. Sou louca quando preciso ser, dou meus ataques, barracos, pitis e falo meus palavrões quando tenho que dar e falar. Abro minha boca quando vejo injustiças e quando acho que tem algo que precisa ser mudado. Mas sou vista na maioria das vezes como uma pessoa em equilíbrio. Não pretendo vestir uma máscara de loucura pra me adequar talvez ao que a sociedade preza hoje como sendo o "legal". Sou assim, sou feliz assim. E pra mim é isso que importa.


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