Ela se segurou na grade do sexto andar pra não cair da nuvem imaginária em que se encontrava no momento. Olhou pra baixo, via os carros em várias cores passando, os letreiros vermelhos e amarelos da cidade, os anúncios colados nos muros pichados. E bateu uma nostalgia daqueles encontros, despedidas e reencontros que aconteciam todos os dias no ponto de ônibus da avenida. Foi tão real que ela pode até mesmo sentir o perfume que ele usava quando se conheceram: Gap Bold.
A brisa fresca que entrava no apartamento minúsculo passou a se assemelhar com aquela que passava pelo bairro alto onde iam se perder do mundo. E ela começou a se sentir tonta. Foi para o banho, e ao escrever o nome dele no box embaçado de vapor percebeu que há muito tempo não escrevia aquele nome em letra de mão. E notou o quão longe, estranho e distante aquelas letras se tornavam quando estavam juntas.
Ela já estava ofegante com o calor que fazia no banheiro de janela mínima que dava pra área de serviço. Chorava, e não sabia distinguir mais o que era lágrima salgada escorrendo e o que era água do chuveiro descendo por seu rosto. Lembrou, lembrou de tudo. E percebeu que lembrar doía. Ainda mais quando não se tem a pessoa ao lado para lembrar com você.