Eu respiro Alberto Caeiro. Esse, com certeza, é meu heterônimo favorito de Fernando Pessoa. Quem já leu alguma poesia dele sabe que ele tem um ar bucólico de arrancar suspiros. Ele me reconecta à natureza, me faz viajar e esquecer desse mundo insano movido pelo consumismo. Ganhei esse livro em setembro, meu pai me deu no meu aniversário junto com vários outros, mas havia esquecido de resenhar.
Sinopse: Esta reunião da poesia de Alberto Caeiro, "o guardador de rebanhos", integra a coleção de obras de Fernando Pessoa publicada pela Companhia das Letras, sempre com texto estabelecido por grandes especialistas. Em Caeiro há uma "ciência espontânea", um "misticismo materialista" e uma "simplicidade complexa"- "atributos paradoxais que servem para intensificar e tornar crível a sua extraordinária singularidade". Nos textos de Fernando Pessoa manteve-se a grafia vigente em Portugal.
"Nasceu em Lisboa, mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão, nem educação quase alguma, só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-se ficar em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia avó. Morreu tuberculoso."
Alberto Caeiro apresenta-se como um simples "guardador de rebanhos", que só se importa em ver de forma objetiva e natural a realidade. Daí o seu desejo de integração e de comunhão com a natureza.
Caeiro é o poeta da Natureza que está de acordo com ela e a vê na sua constante renovação. E porque só existe a realidade, o tempo é a ausência de tempo, sem passado, presente ou futuro, pois todos os instantes são a unidade do tempo. Também é um poeta sensacionista, ou seja, valoriza as sensações, principalmente a visão. Seu discurso em verso livre tem estilo coloquial e espontâneo, muito gostoso de ler.
Se você nunca leu nada dele, recomendo que dê uma olhada ao menos pela internet mesmo. Tenho certeza que irá se encantar pela sensibilidade e o retorno à natureza que ele propõe. Mesmo quem não gosta desse estilo de leitura, com certeza se sentirá um pouco tocado pelas suas palavras. Quando o leio, sinto que ele me entende, que traduz em belas palavras todos os meus pensamentos e sentimentos.
É isso! Espero que tenham gostado da resenha. Quem aí também tem um apego por esse autor? Alguém já leu esse livro? Me contem nos comentários. E, para finalizar, deixo aqui um dos meus poemas favoritos:
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos", 8-3-1914