Era um dia chuvoso, eu havia pegado um café pra viagem e entrado no táxi, eufórica. Pedi ao motorista que me deixasse na porta do prédio dele, aquele prédio antigo com cheiro de mofo. O SMS recebido no meio do meu expediente fazia ele parecer ansioso por me ver e eu não conseguia mais tirar aquele olhar azul da cabeça. Desci, apertei o interfone. Ele atendeu com uma voz de sono abafada, liberou a porta de entrada e eu subi os dois halls de escadaria. Me fazia bem sentir o ar faltar nos pulmões: só as escadas e ele conseguiam fazer isso comigo.
Bati na porta, ele a abriu juntamente com um sorriso escancarado de barba malfeita. Ah, como eu amava aquele sorriso. Me deu um beijo de pasta de dente e mandou eu me sentar no sofá enquanto ele ia para a cozinha preparar um lanche pra nós dois. Pousei meu guarda-chuva na entrada e me joguei no sofá, tirando a bolsa e analisando o quadro que ele tinha na parede branca. Da cozinha, a voz longe perguntava como tinha sido meu dia. E eu contava, com pressa, sem pausas, como se nunca mais fosse ter aquela oportunidade.
Desamarrei meu coturno molhado, coloquei os pés na mesa de centro e me enrolei no edredom que sempre estava por ali. Ele voltou com nosso lanche e passos calmos, de samba canção, como se fosse imune ao frio. Chegou mais perto e me aninhou no seu peito. Ligou a TV e colocou no canal de filme antigos que amávamos. Filmes de solidão assistidos a dois.
Depois de findado o filme em preto e branco, ele voltou às cores, levantou, se espreguiçou, vestiu uma camisa que estava pela sala e foi pra sacada fumar um cigarro. Calcei os chinelos dele e fui atrás. Fiquei do seu lado, em silêncio, admirando o céu roxo azulado salpicado de estrelas. Me senti um grão de areia no deserto, poeira do universo. Mas uma coisa me confortava: eu tinha ele bem ali!
Ele me convidou pra ficar, eu aceitei. Dormimos juntos, despretensiosamente. Eu não queria forçar nada, mas já estava acontecendo. Nós estávamos cada vez mais conectados e isso pairava no ar, por todos os cantos do apartamento, por mais pequeno que ele fosse. Eu não tinha que acordar cedo no outro dia, não tinha com o que me preocupar. Eu só precisava esperar a manhã de sábado entrar pela janela daquele quarto e me acordar com sua luminosidade, com o sol tentando surgir entre as nuvens a todo custo.
E assim se sucederam os dias: eu dormindo com a camisa dele do Smiths e ele me acordando de manhã pra ir dar uma passeio no parque. Foram os dias mais completos da minha vida, até ele me trocar pela garçonete peituda do bar que ia às terças com os amigos. A rotina foi quebrada, os filmes antigos perderam a graça e voltei a me sentir um grão de areia no deserto. A vida é assim: nem sempre o final que acontece é o final que esperamos. Isso se aplica a essa história e a tudo em nossa vida. Aceitemos.
E assim se sucederam os dias: eu dormindo com a camisa dele do Smiths e ele me acordando de manhã pra ir dar uma passeio no parque. Foram os dias mais completos da minha vida, até ele me trocar pela garçonete peituda do bar que ia às terças com os amigos. A rotina foi quebrada, os filmes antigos perderam a graça e voltei a me sentir um grão de areia no deserto. A vida é assim: nem sempre o final que acontece é o final que esperamos. Isso se aplica a essa história e a tudo em nossa vida. Aceitemos.