Regidos por estações de ano bem definidas em que a natureza cambiante faz o mundo flutuar numa constante mutação de temperatura, sons, cores, aromas e gostos, os japoneses tentam se apegar ao efêmero, procurando usufruir ao máximo o que cada estação oferece ao tato, aos olhos e ouvidos, ao olfato e paladar. Ichi-go, ichi-e traz à consciência a proposição de viver ao máximo cada dia, hora, minuto e segundo. Fazer de cada momento um encontro único para ser vivido bem e intensamente.
Todo encontro que temos - um jantar, uma garrafa de vinho compartilhada, um fim de tarde de conversa em um velho sofá vermelho - vai acontecer uma vez, e depois nunca mais vai acontecer novamente. As circunstâncias que cercam um encontro, as pessoas envolvidas e suas disposições exatas e história tornam cada evento único. Podemos interagir com as mesmas pessoas, dentro de circunstâncias semelhantes, mas ichi-go, ichi-e diz que cada interação é uma experiência por si só, que nunca mais será recriada perfeitamente.
Esse pensamento zen tem muito a ver com o chadô, cerimonial de chá japonês. Apesar de o ritual continuar o mesmo desde séculos, em cada cerimônia deve-se concentrar a atenção e o espírito naquele momento, com aquelas pessoas e objetos, naquele ambiente particular. Então será criada uma experiência original e única, que nunca mais será reproduzida exatamente daquela maneira, ainda que no mesmo local, com as mesmas pessoas e os mesmos recipientes.
A cerimônia do chá exige preparação vigilante, bem como a atenção para a prática de estar presente. O objetivo da cerimônia é de reunir um elevado nível de atenção e intenção para o evento. Uma vez que o evento começa, ela deve estar bem ciente do que está acontecendo. Este é o tempo do acolhimento de estar aqui plenamente e estar com seus amigos e entes queridos.
E abandono o meu script interno quando eu recebo amigos em minha casa, abro mão de meus planos de ir para a cama cedo quando um conversa importante surge em seu lugar. Para mim, ichi-go ichi-e parecem estranhamente semelhantes a "trabalhar duro" e também "deixar ir". Fiquemos mais atentos à grande sabedoria e grandes ensinamentos que os japoneses têm para compartilhar.
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