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11 meses sem comprar e porque "desisti" do desafio

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Então, pessoas: pra quem me acompanha aqui desde o início do ano, deve lembrar que eu tinha criado um projeto pessoal, na verdade um desafio, para ficar 1 ano sem comprar roupas (confira o post aqui). Enfim, eu consegui. Estou há 11 meses sem comprar roupas, embora, nesse meio tempo, algumas pessoas tenham me presentado com algumas peças, independente de eu ter deixado claro que não queria ganhar.
Vim explicar porque desisti do projeto. Bom, eu não desisti porque não estava aguentando, porque sofri e porque não dá pra mim. Eu aprendi MUITO nesse meio tempo e ficar sem comprar roupas, pra mim, foi tranquilo e eu criei muitas estratégias pra conseguir lidar com isso (leia esse post). O problema é: o consumismo não é algo que se muda da noite pro dia e mecanicamente. A coisa da proibição e do desafio não adianta, só inibe o comportamento ou desloca. No meu caso, eu não poderia comprar roupas, mas acabei descontando  e canalizando meu desejo para sapatos e livros. O mais incrível é que eu consegui notar isso. A partir de coisas que eu já vinha pensando, e do texto que li do Pedro Kupfer, percebi que não adianta continuar com essa restrição se antes eu não fizer um trabalho interno e mental de mudança. Não adianta um trabalho mecânico e imposto de auto-proibição se o desejo continua latente em mim. Eu fui percebendo isso aos poucos e achei legal ser franca e compartilhar isso aqui com vocês, até pra mostrar que eu também não sou perfeita.
Vou usar alguns trechos do texto do professor de yoga Pedro Kupfer pra tentar mostrar o que eu aprendi com essa experiência hardcore de desapego que eu me impus:

Swāmi Dayānanda escreveu um livro notável, chamado O Valor dos Valores, que explica detalhadamente, vinte valores fundamentais cultivados pelo sábio. Ainda, fica aqui a recomendação da leitura dessa obra que é, na minha modesta opinião, um dos textos fundamentais do Yoga contemporâneo.

O Código de Kṛṣṇa

1. Amanitvam, ausência de vaidade, arrogância ou necessidade de elogio.
2. Adambhitvam, ausência de pretensão.
3. Ahiṁsā, não-violência.
4. Kṣānti, pacífica adaptabilidade.
5. Arjavam, retidão.
6. Achāryopāsanam, dedicação ao professor.
7. Śauchan, purificação.
8. Sthairyam, firmeza de propósito.
9. Ātma-vinigraha, comando sobre o pensamento.
10. Indriyartheśu vairāgyam, desapego em relação aos objetos dos sentidos.
11. Anahaṅkāra, ausência de identificação com as coisas do ego.
12. Janma-mṛtyu-jara-vyādhi-duḥkha-dośa-anudarśanam, reflexão sobre as limitações do nascimento, a morte, a velhice, a doença e a dor.
13. Aśakti, ausência de apego à ideia de posse.
14. Anabiśvaṅgaḥ putra-dara-gṛha-adiśu, equanimidade afetiva.
15. Nityam samachittatvam iśtaniṣṭopapattiṣu, equanimidade constante.
16. Mayi cha ananya-yogena bhaktiḥ avyabicharini, devoção inabalável.
17. Vivikta-deśa sevitvam, apreço por um lugar tranquilo.
18. Aratiḥ janasamsadi, apreço pela solitude.
19. Tattva-jñāna-artha-darśanam, foco e clareza na verdade.
20. Adhyātma-jñāna nityatvaṁ, disposição contínua para o autoconhecimento.



10. Indriyartheśu vairāgyam, desapego em relação aos objetos dos sentidos.

A palavra indriyartheśu se refere àquilo que está vinculado aos órgãos sensoriais, (indriyas). Vairāgya significa desapego. A atitude do desapego consiste em olhar para objetos, pessoas e relacionamentos, reconhecendo objetivamente os seus valores e evitando projetar neles algo que não lhes seja intrínseco.
Desapegar-se não é fugir de pessoas ou objetos mas relacionar corretamente com eles, reconhecendo a mim mesmo como plenitude e deixando de olhar para eles como a solução para minhas carências. Indriyartheśu vairāgyamtambém é ser livre do sofrimento associado às vontades, caprichos ou aversões do ego.

Enfim, é isso! Com essa experiência eu aprendi que eu não preciso deixar de comprar e fugir de tudo, virar uma eremita e me martirizar. Eu só preciso olhar para as coisas e me relacionar com elas corretamente, sem ver nelas um objeto que vai me trazer felicidade e plenitude. E isso eu consegui muito. Me desapeguei das roupas, apesar de ainda gostar de comprá-las. Consigo hoje, não sofrer por não comprar. Sei que preciso trabalhar esse meu desejo de consumo com tudo: livros, roupas, bijuterias. Mas essa experiência serviu pra me mostrar que sim, eu sou forte. Sim, eu consigo sobreviver sem comprar roupas. Sim, eu consigo entrar e sair de um shopping sem levar coisas que não estou precisando no momento. Creio que já consigo lidar um pouco com isso e que não vai ser a simples privação que vai me tornar uma pessoa melhor, mas o olhar interno que dou às minhas atitudes e forma de lidar com o mundo. Pretendo usar essas ideias pro resto da minha vida e gostaria de contar pra vocês como foi pra mim esses 11 meses sem comprar roupas. Espero que também traga reflexões a votenha cês e me fazer entender.

E espero que conseguido transmitir meus pensamentos confusos, haha. Beijos com carinho!


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