Nunca vou esquecer da noite que passamos juntos na beira da praia, eu ardendo com marcas de biquíni e os ombros feito dois tomates, minhas sardas mais salientes que nunca em cima das bochechas e você falando que eu estava ainda mais linda. A gente assistiu ao pôr-do-sol, conversou sobre MPB, filmes de drama, constelações, sereias, os mistérios do mundo. Demos risadas, mergulhos na maré alta, dançamos sem música... você apontava a lua enquanto colocava um braço envolta da minha cintura, me fazendo ruborizar mais ainda. Seu bronzeado e a cor dos seus olhos mel chegavam a constranger e o mar parecia uma pintura em aquarela naquele dia. Você pegou minhas mãos trêmulas de dedos finos e enlaçou-as nas suas. Eu não conseguia entender como aquilo estava acontecendo, mas estava. Os pés descalços que mais cedo deixaram pegadas solitárias na areia, agora tinham vontade de seguir juntos uma trilha que não se sabe onde iria dar.
Faltou um violão, uma fogueira e uma barraca para completar o clima, quem sabe também uns marshmallows. Ok, já é devanear demais. Aquela canga com estampa de fitinhas do Bonfim já estava de bom tamanho para comportar toda aquela energia. Ver seu sorriso, sempre de canto, sendo assumido na minha cara, trazia uma sensação que só Eros conseguiria explicar. A cerveja estava gelada, mas meu coração estava fervendo (e não era por causa dos quase 40 graus que fazia). Nunca imaginei que uma sexta-feira pudesse carregar consigo tantas coisas boas.
Eu sempre pulei todas as ondas de relacionamento que chegavam até mim, mas juro, dessa vez eu queria era levar um belo caixote, quem sabe até me afogar. Queria deixar as ondas entrarem em mim com efeito e vigor. Água e sal, mas dessa vez não eram lágrimas. Era o mar trazendo consigo a pessoa que tanto pedi a Iemanjá.