A origem da palavra tatuagem vem de uma língua antiga do Taiti, onde essa prática foi denominada como tatan, que significa ato de desenhar. A tatuagem não é, unicamente, um desenho, uma pintura, um adorno, mas também, e, prioritariamente, uma marca única e definitiva. A tatuagem pode, em algumas ocasiões, transmitir uma mensagem a ser decifrada.
As tatuagens, os piercings e as mutilações tinham diferentes funções conforme a cultura, mas, de modo geral, eram usados como símbolo de pertença a uma tribo, amuleto de proteção ou símbolo de iniciação e reconhecimento social. A partir do cristianismo da Idade Média, essas práticas passaram a ser vistas como mutilação do corpo, caracterizando aqueles que estavam à margem da sociedade e que se diferenciavam da imagem de Deus. Essas práticas passam, então, a ser proibidas. Todavia, o corpo marcado volta ao cenário a partir do final do século XIX por meio de marinheiros, circenses, prostitutas, prisioneiros, homossexuais, que buscavam, principalmente, um traço que os diferenciasse. Portanto, além dos elementos psíquicos, as manifestações corporais relacionam-se com elementos culturais. Percebe-se a influência da cultura como correponsável pelas formas de subjetivação de cada tempo.As tatuagens passaram a ser buscadas como possibilidades de constituição de uma identidade. Dessa maneira, o uso de tatuagens e piercings, embora pareça evocar práticas indígenas, encontra-se distanciado do caráter tribal. Na atualidade, são observadas multiplicação e diversidade nessas práticas, especialmente entre adolescentes e adultos jovens, como uma maneira de imprimir, por meio de uma marca corpórea, sua singularidade no cenário contemporâneo.
O ato de se tatuar está longe de ser uma prática vinculada à moda ou à imitação grupal, pois parece ter se convertido em uma forma específica para construção de uma identidade diferenciada, marcada na própria pele. A busca pela modificação drástica da imagem corporal, por vezes, choca e agride o olhar alheio. Esse corpo-imagem parece clamar pelo olhar do outro. Nesse contexto, as tatuagens surgem como marcas corporais que parecem estar a serviço de denunciar o excesso que não pode ser simbolizado e inscrito psiquicamente.Essas práticas corporais atendem a aspectos primários da estruturação do psiquismo. Práticas corporais, como a colocação de piercings, tatuagens e escarificações, trazem às pessoas que as praticam sentimentos de autoproteção, de apropriação de uma identidade, de reapropriação do próprio corpo, de autoconfiança, de um corpo que antes parecia não existir.
As marcas neste corpo evidenciam que ele é um meio pelo qual é possível expressar faltas e excessos, comportando, assim, uma linguagem particular. Essas considerações se estendem tanto às possibilidades de interpretação do uso de tatuagem quanto de piercings, assim como às diversas modalidades de expressão que o corpo pode comportar.Trechos retirados deste artigo científico.