Primeiramente, gostaria de dizer que nenhuma resenha consegue descrever o sentimento e as coisas que se passam ao ler esse livro. Eu decidi ler por indicação de vários professores e por eu estudar sobre saúde mental na faculdade. Pra quem nunca ouviu falar, o livro trata sobre uma tragédia ocorrida no Brasil, que poucas pessoas tiveram e tem conhecimento. Vai além de uma simples narração, é uma denúncia, uma parte da história do país que não pode, nem deve ser esquecida.
Sinopse: Neste livro-reportagem fundamental, a premiada jornalista Daniela Arbex resgata do esquecimento um dos capítulos mais macabros da nossa história: a barbárie e a desumanidade praticadas, durante a maior parte do século XX, no maior hospício do Brasil, conhecido por Colônia, situado na cidade mineira de Barbacena. Ao fazê-lo, a autora traz à luz um genocídio cometido, sistematicamente, pelo Estado brasileiro, com a conivência de médicos, funcionários e também da população, pois nenhuma violação dos direitos humanos mais básicos se sustenta por tanto tempo sem a omissão da sociedade. Pelo menos 60 mil pessoas morreram entre os muros da Colônia. Em sua maioria, haviam sido internadas à força. Cerca de 70% não tinham diagnóstico de doença mental. Eram epiléticos, alcoólatras, homossexuais, prostitutas, gente que se rebelava ou que se tornara incômoda para alguém com mais poder. Eram meninas grávidas violentadas por seus patrões, esposas confinadas para que o marido pudesse morar com a amante, filhas de fazendeiros que perderam a virgindade antes do casamento, homens e mulheres que haviam extraviado seus documentos. Alguns eram apenas tímidos. Pelo menos 33 eram crianças.
O livro não trata de uma história bonita e pode ser chocante para muita gente, mas relata a realidade dos acontecimentos de uma forma genial. A autora e jornalista Daniela Arbex trouxe à tona um passado esquecido, usando de muita sensibilidade ao falar do horror ocorrido em Barbacena. O livro tem muitos dados, imagens reais, entrevistas e relatos de vida de médicos, ex-pacientes, filhos que perderam seus pais no local, etc. A diagramação está perfeita, a fonte, a capa. Tudo lindo.
A escrita é envolvente e mostra as piores faces que o ser humano pode assumir. É triste e pode deixar muitas pessoas mal, mas pra mim não foi tão impactante porque já tinha ouvido falar muito das condições dos hospícios, dessa história em si, e já havia assistido ao documentário feito pelo Helvécio Ratton sobre o Colônia, chamado "Em nome da razão", que são as imagens vivas do genocídio.
Quem chegava ao hospício, através do trem de Barbacena, era deixado à própria sorte, com uma comida pior que lavagem, com fezes e urina em todos os lugares, doentes com moscas no corpo e muitas vezes tendo que comer ratos e tomar a água do esgoto que percorria o pátio. Além das sessões de "tortura" ocorridas com os banhos gelados à noite e os choques elétricos. Na maior parte do tempo ficavam nus ou em trapos porque não tinham roupas, perambulando pelo pátio. A média de mortes lá era de 16 pessoas POR DIA. Os corpos? Eram vendidos para faculdades de medicina e odontologia como indigentes. Essas são apenas algumas das barbaridades relatadas no livro.
É triste, emocionante, chocante, revoltante, enfim, vocês só conseguirão ter dimensão do que digo se buscarem mais a fundo sobre a história, se lerem o livro. Só digo que é uma ótima leitura pra quem se interessa por temas mais sérios e pra quem deseja saber um pouco mais da história escondida do nosso país.
Algumas imagens do livro (disponíveis no Google Imagens):
Algumas imagens do livro (disponíveis no Google Imagens):
Espero que tenham gostado da resenha. Alguém aí já leu?