Falta tempo para preparar as refeições, mas sempre sobra um pouco para ver o que acontece no Facebook ou assistir mais um episódio daquela série. Para algumas mulheres, às vezes é motivo de orgulho dizer que não aprenderam a cozinhar. De tanto ver as mães no fogão, associaram a tarefa à submissão feminina, um estigma infeliz e difícil de ser quebrado.
Um em cada três jovens entre 18 e 25 anos não sabe sequer cozinhar um ovo e praticamente a metade não é capaz de fazer um macarrão à bolonhesa, segundo pesquisa da rede britânica de supermercados Sainsburys. No Brasil, não deve ser muito diferente. Provavelmente com o início das aulas, quando serão obrigados a morarem sozinhos ou com amigos por causa da faculdade, muitos viverão à base de miojo, pizza, sanduíche e refrigerante. Em uma das fases em que mais precisariam de energia para aguentar o tranco e manter o cérebro afiado, vão estar com o corpo ocupado demais digerindo todas as porcarias que os mantêm em funcionamento.
Paralelamente, a gastronomia está em alta. Não faltam programas de TV, livros, sites e cursos sobre culinária. Muita gente até se empolga, faz uma graça no fim de semana para os amigos ou um charme para o novo affair. Passado o entusiasmo fogo de palha, a cozinha volta a ficar subutilizada. É interessante observar o quanto as pessoas que já saíram da vida universitária ou casaram gastam em cozinhas incríveis, planejadas, com mil e uma utilidades e pouco aproveitamento. Para ferver água, esquentar leite ou fazer café, um fogareiro já servia.
Claro que, felizmente, existem pessoas que reconhecem a importância de cozinhar e encontram formas de manter esse hábito vivo no dia a dia, apesar do implacável buraco negro do tempo que também as persegue. Quem se aventura pelo mundo das panelas dificilmente se arrepende.