Imagem: Andrea Mendes
Depois de bastante tempo lembrei de publicar a parte II, haha. Para quem não leu, aqui está a parte I.
1- Seu então amante, o Grão-Duque Dmitri Pavlovich, apresentou-a a um amigo, Erner Beaux, outro imigrante russo fugido da Revolução Russa. O pai de Beaux tinha sido perfumista do czar e na época em que Beaux conheceu Chanel ele estava trabalhando para a Coty. Pavlovich, que gostava do luxo tanto quanto Chanel, disse que ela não podia ter uma casa de moda sem um perfume de classe internacional que fosse um produto seu.
2- No verão de 1923 Chanel foi no seu Rolls Royce garimpar antiguidades no sul da França com a sua nova amiga Collete. A escritora havia se divorciado do segundo marido e estava vivendo com Maurice Goudeket numa aldeia perto de Roquebrune. Dada a dedicação de Chanel ao seu trabalho, é difícil imaginá-la de loja em loja na Provence com a voluptuosa mais infame da época exclamando ao ver amoladores e facas antigos ou curiosos equipamentos de jardinagem enferrujados. De qualquer forma, nas suas viagens, Chanel e Colette foram parar na pequena aldeia de Grasse e conheceram a fábrica de perfumes Fragonard, e Chanel ficou achando que precisava ter o seu próprio pergume. Ela contatou Ernest Beaux, que viu nela um olfato vigoroso e discriminador. “Sim”, confessou Chanel, “quando alguém me oferece uma flor eu posso sentir o cheiro nas mãos que a colheram”.
3- Um dos muitos contatos de Misia, uma de suas maiores amigas, lhe mostrou um documento que supostamente fora encontrado entre os papeis de Eugénie, a imperatriz deposta, mulher de Napoleão III. Chamado “O Segredo dos Médici”, o texto detalhava a fórmula até então secreta de uma água-de-colônia usada pelas rainhas Médici (e também por algumas cortesãs de alta-classe) que garantia “uma pele maravilhosa e a cútis de uma jovem” e “juventude permanente, indestrutível”. Misia achou tudo aquilo engraçado – na verdade era uma água-de-colônia mágica – mas teve uma ideia. Ela pediu um carro e foi diretamente para a loja de Chanel, a quem propôs a ideia de produzir uma água-de-colônia famosa internacionalmente baseada no “segredo dos Médici”. Chanel também se divertiu com a história, mas as duas amigas começaram a pensar em embalagens, inclusive num vidro quadrado que parecia ter saída da farmácia e não de uma fábrica de perfumes. Misia, de acordo com seu relato, incentivou a amiga a “entrar de cabeça nos perfumes”. E foi o que ela fez.
De qualquer modo, Beaux com Chanel foi um casamento feito no céu olfativo. Chanel rondava o laboratório de Beaux, cheirando e cheirando de tal forma que se fosse uma mulher qualquer ficaria tonta de náusea. Ser abençoado com um olfato discriminador é muito próximo de nascer com a habilidade de fazer arremesso perfeito. O nariz de Chanel, assim como seu gosto, era impecável. Ela queria que o seu perfume não tivesse o cheiro de rosas ou íris ou jasmins, mas sim um cheiro diferente próprio. Ela concordou quando Beaux sugeriu o uso de moléculas sintéticas, captando as nuances de usar algo artificial não só para imitar o cheiro do real, mas para fixa-lo, sem permitir que ele desaparecesse. Conceitualmente, ela gostou da ideia de um perfume ser uma coisa construída, como um vestido com um lindo modelo. Quanto ao nome, pode ter sido a quinta fórmula que Beaux lhe apresentou, seu número da sorte ou um número que ela escolheu aleatoriamente só para intrigar as pessoas. Que estão intrigadas até hoje.
Trecho retirado do livro O Evangelho de Coco Chanel, da autora Karen Karbo.
E aí, meninas, o que acharam da história? Espero que tenham gostado. Beijos!